018 - Como ler um diálogo platônico? - James A. Arieti
Texto de pesquisador norte-americano busca uma teoria da composição literária na obra de Platão
Por James A. Arieti — Trad. André Lisboa
Ao discutir Platão, é possível explicar a teoria da composição literária platônica — como se ele tivesse escrito um tratado sobre isso — extraindo dos diálogos todas as referências ao assunto e então forçando aqui, espremendo ali, omitindo aqui para fabricar algum tipo de sistema. Não tentarei isso. Também é possível olhar para os próprios diálogos para tentar explicar a prática de Platão em seu ofício literário. É isso que pretendo fazer. Primeiro, no entanto, devo dizer algumas palavras sobre o que acho que Platão estava fazendo e onde a maioria dos leitores de Platão errou.
A maioria dos problemas para entender Platão surge do estudo dos diálogos como se fossem parte da tradição da qual Platão não participou. Quando os leitores tentam encontrar posições sistemáticas, consistentes e diretas nos diálogos, com argumentos sólidos e significado claro e inequívoco, eles batem contra uma parede de ferro — os diálogos são tudo menos sistemáticos. Como poderiam ser? Afinal, eles imitam a conversa desconexa e confusa que encontramos em conversações vivas. Eles são tudo menos consistentes: encontramos conclusões contraditórias nos diálogos – mesmo em questões como a teoria das formas, supostamente o alicerce etéreo do pensamento platônico[1].
Os diálogos são tudo menos diretos: observe todas as maneiras extremamente variadas com que os críticos lidam com as metáforas da caverna e da linha dividida[2]. E muitas vezes os diálogos contêm argumentos que são tudo menos sólidos: lembre-se de todos os equívocos, erros lógicos e jogos intelectuais em que todos os personagens se envolvem[3]. Os estudiosos sempre acharam Platão uma mina de ouro para artigos porque cada leitor pode encontrar uma nova reviravolta para explicar alguma dificuldade no texto.
Quando vários fenômenos astronômicos apresentavam dificuldades aos astrônomos antigos, os astrônomos, usando o que acreditavam ser princípios fundamentais sólidos, elaboraram a teoria do movimento epicíclico para explicar as irregularidades aparentes no movimento celeste e especialmente planetário e lunar. Eles criaram a teoria em parte porque tomaram como princípio fixo da natureza a necessidade do movimento perfeitamente circular. Os estudiosos de Platão, como aqueles que criaram o sistema Eudoxano e Ptolomaico, tomaram como seu próprio princípio fixo da natureza que nenhum filósofo colocaria consciente e intencionalmente em seu texto filosófico visões que fossem assistemáticas, inconsistentes, pouco claras e - pereça o pensamento! - insustentáveis. Assim, para lidar com as características aparentemente aberrantes do universo platônico, eles inventaram uma espécie de teoria analítica dos epiciclos, isto é, a teoria dos ciclos na vida de Platão. Assim surgiu a teoria dos diálogos inicial, médio e tardio - com períodos de transição adequados para os diálogos que não se encaixavam perfeitamente em nenhum período.
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